Aton Fon Filho com participantes da roda de conversa sobre Advocacia Popular. Foto: Rebeca Bastos/Ascom-AATR
'Advocacia Popular: trajetórias e desafios' foi o tema de uma roda de conversa com o advogado popular Aton Fon Filho, no dia 22 de maio. O evento aconteceu na sede da AATR e reuniu associados/as e convidados/as que puderam refletir sobre as adversidades e conquistas da área.
Em sua fala de recepção, João Regis, advogado popular e presidente da AATR, destacou que a vida tem sido generosa ao oportunizar encontros e reencontros que possibilitam trocas significativas. "Esse é um momento especial para a instituição, pois estamos em ampliação da nossa atuação para além da Bahia, com participação significativa no Matopiba [que é composto pelas porções de Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]”, frisou.
Antes do bate-papo, Aton foi acolhido pela estagiária de direito Thailane Pereira e pela advogada Laís Franco, que reforçaram a relevância da presença do ativista na entidade na qual é associado.
Despertar
Durante o diálogo, Aton detalhou sobre o início de sua luta contra à Ditadura e como foram os fatos que culminaram na sua prisão. “Neste período em que estive preso, vi como os advogados precisavam usar estratégias criativas para conseguir acessos à Justiça. E foi também nesta época que a advocacia se desenhou para mim como uma ferramenta na luta de classes”. Importante ativista da democratização do Direito, ele ainda compartilhou com os presentes que os objetivos finais não devem ser esquecidos e que geralmente não há espaço para fazer ‘educativo das lutas’ nos processos, “nosso objetivo é político, por isso temos que ser estratégicos para conseguir os fins políticos”.
O momento também foi dedicado a discutir os desafios da Advocacia Popular diante dos avanços de grandes empreendimentos de energia eólica e mineração e de novas formas de atuação do capitalismo que sempre encontra maneiras de desunir e jogar os trabalhadores uns contra os outros. Fazer o oposto é parte do trabalho. “Temos que fazer de uma forma que todas as categorias dos trabalhadores se coloquem contra o novo capital, temos que ser capazes de colocar no mesmo lado as diversas categorias. Nós temos a obrigação de fazer luta política e luta jurídica", resumiu.
Aton também deixou um alerta para quem está começando a atuar como advogado ou advogada popular: “Se estamos dedicados a enfrentar e resolver problemas jurídicos do povo brasileiro, temos que inserir necessariamente também compromissos com a revolução social, porque os problemas do povo brasileiro só se resolvem através da revolução social. Uma revolução com sentido de estabelecer novas relações, inclusive jurídicas, só atendendo aos interesses do povo brasileiro”.
Histórico
Referência nacional da Advocacia Popular, Aton Fon Filho nasceu em Salvador e tinha 16 anos quando os militares tomaram o poder no Brasil, em 1964. Anos depois, em 1969, foi preso e torturado por sua atuação na Ação Libertadora Nacional (ALN).
Ao conquistar sua liberdade, 10 anos depois, dedicou-se aos estudos do Direito e especializou-se em conflitos agrários e direitos de populações tradicionais, atuando em causas e movimentos sociais. Associado da AATR, Fon Filho foi legalmente anistiado apenas em outubro de 2013.
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